segunda-feira, 18 de abril de 2011

ENCONTRO DA VELHA GUARDA NO ZOO DE BRASÍLIA, E MAIS LEMBRANÇAS.


            
   No dia 19 de março de 2011,entre 9:30 e 11:30h ocorreu no zoo de Brasília-DF um encontro da velha guarda da capoeira local,com a participação de vários capoeiristas do mais alto quilate.   Entre os mais antigos,tivemos o privilégio de contar com a presença do mestre Tabosa. Compareceram também os mestres: Monera( Antonio Carlos), Alcides, Luis, Paulo, Carcará,André, Paulao, Gilvan, Jomar, Aranha etc.
   O mestre Monera foi formado pelo mestre Tabosa, mas ganhou de mim esse apelido quando começou iniciou comigo no Elefante Branco.  Estudávamos na mesma turma do curso "Científico "do CEMEB. Por  ser pequeno e muito parrudo,comecei a chamá-lo com o nome da divisão dos seres vivos da qual pertencem as bactérias. Acabávamos de aprender isso nas aulas de ciências naturais.rsrsrrsrsrrsrsr.    Ele faz parte da história da capoeira do DF,também por ter vencido a final dos pesos leves,no campeonato brasileiro de 77. Participei na categoria peso pesado e vencí o Acordeon,para a alegria dos presentes, mas a Bahia convenceu a banca organizadora a retirar a minha vitória  .
   O mestre Monera derrubou o adversário com uma rápida e perfeita cruz.  Ele treinou comigo até o dia onde pensou que me derrubaria com uma banda de costas. O feitiço virou contra o feiticeiro e ele  foi "enterrado "com o mesmo golpe. Naquele momento,pegou suas coisas e saiu sem se despedir. Foi treinar com o mestre Tabosa onde tornou-se um grande capoeira e campeão brasileiro(Ainda bem!!! rsrrs).
    Daquela turma de 68 saíram grandes capoeiristas,como o Dr. José Reinaldo Vieira,possuidor do martelo rodado mais alto que já ví até hoje.  Quem aproximou-se da sua marca,foi o  Renato Pimenta da Veiga aluno do mestre Jomar. O Zé Reinaldo é um conceituadíssimo oftalmologista em Brasília.  Posteriormente foi treinar com o mestre Tabosa.  Eu iniciei muitos capoeiristas que se deslocaram depois para outras academias.   Creio que, por questões de proximidade de suas residências,horários flexíveis ou mesmo porque eu não era muito simpático.  Nunca fui do tipo repressor,mas também não admitia indisciplina. Eu treinava porque gostava. A capoeira era o meu parâmetro para o sucesso em outras atividades. Mesmo precisando da pequena quantia de dinheiro que cobrava dos alunos, não tolerava preguiçosos. E nessa linha de raciocínio, eu não percebia que muitos estavam alí por puro lazer . Eu deveria ter tirado proveito disso através de uma atitude mais simpática , agregadora ao invés de marcial.
   O Ronald hoje é  engenheiro,mas na época era um capoeirista sagaz e um tremendo gozador.  Juntava-se ao Zé Reinaldo para contar histórias fantasiosas a meu respeito para os alunos novatos.  Ele lhes dizia para me pedir que executasse o meu famoso "Aú vocativo " .  Ele descrevia minuciosamente aos alunos, o modo como eu executava tal movimento enquanto a platéia ficava boquiaberta : -  "Começa como se fosse um simples aú, apoiando-se na bananeira  apenas com o dedo mindinho e  logo  individualmente com os dedos seguintes. Depois passa para a outra mão até voltar a ficar de pé. Às vezes ele para na bananeira e solta as mãos e sustenta todo o corpo com a língua " kkkkkkkkkkkkk Quando algum aluno menos ajuizado vinha me perguntar,eu desmentia é claro, misturando desculpas com  gargalhadas. Era divertido !!!.
  O mestre AC,meu primeiro formado,foi também daquela época.
  O mestre Tranqueira também treinou comigo,mas não sei com quem se formou.  Era um negro alto e forte e com grande facilidade de derrubar seus adversários com suas bandas de frente infalíveis.  Um dia,apareceu no CEMEB um ônibus vindo de Matogrosso cheio de mulheres bonitas . O guia que as acompanhava era um professor de educação física com iniciação em capoeira,o qual gostaria muito de voltar a Brasíla e ser meu afilhado.  Não guardei seu nome e nunca mais o ví.  Bem,isso tudo é uma prévia para contar que armamos uma roda de exibição para as meninas.  Quando joguei com o Tranqueira,quase caí  numa de suas bandas de frente.  Sentí meu pé de apoio  arrastado por alguns centímetros e
 sentí um frio percorrendo a espinha.  Quando percebí que não havia caído, me recuperei e partí para cima dele incentivado pelas lindas espectadoras.  O Tranqueira trabalhava numa gráfica e fez alguns cartões de visita para mim. Dava aulas no palácio do comércio entre as quadras 504/505 sul.
Fiquei com um livro mostruário dele, para escolher outros modelos de cartões. Não conseguí entregá-lo porque logo soube de sua morte por hemorragia digestiva em função de uma hepatite fulminante.
    Ainda a respeito do evento do zoológico,soube pelo mestre Alcides,de um acontecimento ocorrido em uma grande roda realizada no colégio agrícola em Planaltina-DF,da qual não participei.
    Um aluno do mestre Sabú de Goiânia,conhecido por Bosquinho  jogou muito duro com o mestre Chibata,para o meu descontentamento e por não estar presente naquele dia.   O rapaz era uma figura bem afeiçoada , de boa família daquela capital goiana, além de ser um grande capoeirista.
    Meu aluno,Péricles Gasparini (Molinha),grande capoeira , primeiro campeão de skate em Brasília , grande funcionário da ONU , residente em NYC,resolveu a pendência.  Ele foi a Goiânia e jogou numa roda de rua com o tal rapaz,aplicando-lhe alguns corretivos pelo que havia feito ao mestre Chibata.
  Fiquei sabendo faz alguns anos,que fui professor de um sobrinho do Bosquinho na faculdade de medicina da UNIPLAC-DF. Disse-me que seu tio tinha fama de brigão e terminou sendo executado enquanto trocava um pneu na frente da casa da namorada,pensando que fora causado por um prego acidental.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Mais HISTÓRIAS

      Conhecí o Mestre Rafael(O líder na época do grupo Senzala) em Brasília  no início de 1969 através do mestre Tabosa. Nos encontramos no Centro de Ensino Médio Elefante Branco- CEMEB onde eu dava aulas. Neste dia realizei uma roda,onde jogamos pela primeira vez. Ele é um indivíduo branco,cabelos louros, nariz helênico e totalmente diferente do estereótipo mestiço dos capoeiristas que eu costumava ver.  Outra característica interessante no seu comportamento,era o seu modo de gingar. Ele não passava o pé que se encontrava na primeira base,diretamente para trás,mas tocava-o antes com sua parte interna ,a parte também interna do joelho da perna de apoio.  Quando o pé que se encontrava atrás na segunda base retornava para frente de modo a refazer a primeira base,tinha que tocar antes o mesmo joelho da perna de apoio,antes de se deslocar para o lado. Dava a impressão que ele estava se deslocando sorrateiramente para diante, sempre ameaçando soltar uma bênção ou uma ponteira baixa(Martelo-de-frente).
     Neste encontro,ele convidou-me a participar do último berimbau-de-ouro no segundo semestre do mesmo ano.
      Uns anos atrás eu vi uma reportagem na televisão,sobre um fazendeiro no norte do Espírito Santo que promoveu uma verdadeira revolução,na sua fazenda e em parte no município. Quase  todos próximos a ele aderiram à capoeira. Os mais antigos,sem condições físicas de praticá-la,compareciam às rodas e simplesmente batiam palmas e repetiam o coro. Pude observar,vaqueiros carregando seus berimbaus no dorso dos seus cavalos. Fabricantes de toneis de pinga passaram a confeccionar atabaques. E assim ele não se afastou das coisas que gosta.

     Eu estava,certo dia, sentado na escada sul que ligava o andar superior do colégio ao enorme salão negro onde eu ministrava as aulas ,todas as segundas,quartas e sextas a partir das 18h.  Meu semblante demonstrava tristeza por não ter condições financeiras de viajar para o Rio de Janeiro onde seria realizado o berimbau-de-ouro. Do mesmo diretor cujo incentivo recebi para dar aulas naquele educandário, iria receber também o apoio financeiro para me deslocar até o Rio de Janeiro.  Ele me percebendo chateado,perguntou-me quanto precisaria para viajar. Eu ,o mestre Tabosa e o Rubinho fomos no fusquinha 1200 deste último. Precisávamos rachar as despesas e caberia a cada um de nós a quantia de quarenta cruzeiros.  O professor Cezar Gonçalves me deu cem cruzeiros e fiquei-lhe eternamente grato. Como esse mundo dá voltas!!!!!  Um dia eu estava de plantão no hospital de Base,nove anos após o berimbau de ouro,quando me chamaram para dissecar uma veia no PS da cardiologia. Para a minha surprêsa eu fui atender justamente a sogra do professor Cezar. Ele estava presente com a sua linda esposa e pude então, com grande prazer, tentar retribuir com o meu ato-médico a grande alegria que ele havia me proporcionado anos atrás.

quarta-feira, 9 de março de 2011

MESTRE TABOSA ME CONVIDAVA A CORRER

          O mestre Tabosa sempre foi o maior incentivador da capoeira no Distrito Federal.   Grande atleta, favorecido por uma compleição física que o dotava com os requisitos mínimos para a prática bem sucedida de qualquer esporte.  Portanto, a capoeira foi facilmente assimilada por sua máquina biofísicomental.
         Tive o prazer de ser convidado inúmeras vêzes para treinar com ele, inclusive no eixo monumental. Saíamos correndo na altura da SQS 208 em direção à rodoviária.  Nós levávamos conosco um menino magrelo, morador de um bloco da SQS 410 em frente ao meu.  Foi um dos meus primeiros alunos.  Algum tempo depois, ele mudou-se para o Cruzeiro ( Só existia o "Cruzeiro velho "naquela época ) e nunca mais tive notícias dele.  Nem mesmo seu nome me lembro mais.  Quem sabe algum dia,tenhamos a sorte de reencontrá-lo e possamos enriquecer este blog com lembranças ,cujo tempo já tenha apagado da minha memória.    O mestre Tabosa notava,como parávamos frequentemente pelo fácil esgotamento físico do menino.  Não demorou muito,para apelidá-lo de PALMO-DE-LÍNGUA.
       Os treinos tinham como base,uma corrida em fila indiana.  Quem estava na dianteira,dava um sinal para que o último,disparasse e se colocasse adiante.  Num dado instante,parávamos e fazíamos as sequências do Mestre Bimba,nos revezando.   A partir destes treinos,começamos a discutir,formas de otimizar a prática dessas sequências.  ADAPTAMOS a forma de executá-las,através  do respeito rígido aos pontos onde os pés e mãos tocavam o solo,após a execução de cada golpe, com o objetivo de não desperdiçar tempo com deslocamentos aleatórios e desnecessários.  Muitos críticos  ANÔNIMOS a estas adaptações ,permanecem ESCONDIDOS SOB PSEUDÔNIMOS impedindo assim que possamos enriquecer o debate.  Eles criticam por exemplo,a forma como apresentei estas sequências no YOUTUBE.
 São críticas na maioria destrutivas,simplesmente pelo desconhecimento dos processos pelos quais tivemos que fazê-lo.   Sempre expliquei que fiz apenas ADAPTAÇÕES,sem contudo ALTERÁ-LAS.  Um dos motivos que tivemos para estes aprimoramentos,foi a realidade da época do início de Brasília.  Comparando  a IDIOLETÍCE, que é um termo que traduz a forma diferente de cada indivíduo falar a mesma língua,com as diversas formas de executar  as mais diversas atividades humanas,percebemos que as adaptações existem em todos os sistemas.como forma de otimização e consequente evolução.  O que não evolui, é FOLCLORE.  A prova disso obtive conversando com o mestre Camisa,o qual me contou que executa as sequências do mestre Bimba, de trinta modos diferentes.
 A nossa cidade,inicialmente é lógico, não possuia nenhuma tradição.  Todos eram estrangeiros. E nesse sentido,até a nossa capoeira foi submetida às mais diferentes formas de testes de eficiência. Mesmo vindo de outros capoeiristas de outros estados,principalmente baianos.
  Ao analisarmos criticamente as sequências,selecionamos os movimentos que pudessem ser melhorados em termos de COMBATE através da aplicação de princípios biofísicos.   Respeitamos e conservamos os fundamentos e a ética que se auto-gerem e caracterizam a capoeira como tal, mas sem contudo esquecer do seu perfil de LUTA...com grande poder destrutivo.
    E assim fomos gerando os nossos descendentes

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

MEU PAI ME ENSINA.

Escreví estas linhas para o Indio do Ave Branca,quando o ví NO ORKUT sustentando o filho nos braços e  deixando apenas os pés do herdeiro,tocar a água da piscina.

Uma imagem,nos provoca diversas possibilidades de interpretação. Da mesma forma temos obrigação de interpretar as diversas imagens(um filme) executadas pelo camarada jogando conosco.  Necessitamos de uma certa desaceleração ao interpretar cada "película".  Quando gingamos,mudamos o referencial , acompanhando,antecipando e compreendendo sem preconceitos.

QUANDO EU ERA PEQUENINO
NUMA MANHÃ DE VERÃO
MEU PAI PEGOU-ME NOS BRAÇOS
ENSINANDO-ME UMA LIÇÃO.

VEJA!! NÃO SÓ COM OS OLHOS
TUDO À FRENTE E ATRAVÉS
ESCUTE O CHEIRO DO MUNDO
PROTEJA A ALMA COM OS PÉS.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE.

Transcrevo aqui o  que enviei ao PORTAL CAPOEIRA

Salve amigos do PORTALCAPOEIRA !
Acompanho,sempre que posso,os acontecimentos relacionados à capoeira,através desse grande difusor da nossa amada arte.
Tive a oportunidade de ler um artigo veiculado por este portal,datado do dia 1 de setembro de 2006,com o título : - "Brasília-DF - Violência e morte - A capoeira chora !!!". 
Lembrei-me do trágico acontecimento onde foi espancado e assassinado brutalmente o jovem Marcos Velasco no dia 10 de agosto de 1993,por um grupo de jovens brasilienses.
Entre os participantes,encontravam-se  monstros travestidos em atletas praticantes de diversas formas de defesa pessoal.
 A capoeira, hoje, 05/02/2011, quando revisei este texto, sendo uma modalidade esportiva tombada como patrimônio imaterial da humanidade,não poderia ficar ausente.  Não preciso discorrer muito,para que todos imaginem o quanto este acontecimento comoveu imensamente a nossa sociedade pela crueldade como seus executores agiram.
  Logo após esta barbárie, as autoridades começaram uma verdadeira caça às academias de artes marciais, buscando  qualquer indício que pudessem reprová-las como órgão educadores.
  Não me visitaram,creio eu, pelo meu trabalho transparente,sempre utilizando a capoeira como um excelente veículo auxiliar na formação  dos jovens .
   Um fato desagradável me decepcionou alguns dias após o fatídico episódio.  O nosso jornal de maior circulação na capital federal - CORREIO BRAZILIENSE- lançou uma matéria inverídica e irresponsável na primeira página. A manchete denominava-se  : -  "GANGUES DO PLANO PILOTO DE BRASÍLIA".  Sobre um mapa esquemático da cidade colocaram diversas bandeirinhas com o NOME de cada uma dessas gangues.  Para a minha surpresa, ví meu nome  escrito em uma dessas bandeirinhas : -  ADILSONCAPOEIRA.  Nome este,símbolo do grupo  liderado por mim durante 24 anos em Brasília.
  Como o meu nome foi parar lá, não sei até hoje o motivo.   Estive em alguns programas locais de televisão e inclusive no próprio CORREIO BRAZILIENSE para saber o porquê de terem maculado um símbolo tradicional na capital do Brasil.  Não me deram  nenhuma resposta convincente. Simplesmente acusavam algum jornalista irresponsável,mas não revelaram nomes e nem mesmo  se importaram em reparar o erro  crasso , do qual só trouxe,vergonha e revolta a mim e a todos que me conheciam.
  Desde então, fui gradualmente acabando com o grupo ADILSONCAPOEIRA, desgostoso pela facilidade como somos destruídos e manipulados por uma instituição cuja função  deveria  ser , a de bem-informar a população que a sustenta, ao invés de levantar precipitadamente,falsos-testemunhos(Art.342) de cidadãos REALMENTE úteis à sociedade 

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

MESTRE PASTINHA(LIVRO ORIGINAL DE 1964) FOTOS COM MELHOR DIGITALIZAÇÃO






CRÔNICAS DA POLÍCIA DO RIO DE JANEIRO(Fernando Bastos Ribeiro-1958)












CAMPEONATO BRASILEIRO 1977

Era uma manhã fria e encontrávamos reunidos para o desjejum.
Estávamos no segundo dia do evento anual realizado por um grande mestre amigo nosso.  Na nossa mesa encontravam-se muitos mestres de renome.
Aproveitei o ensejo e perguntei a um deles o motivo pelo qual "roubaram-me"o título de campeão brasileiro dos pesos pesados no segundo semestre de 1977.  A equipe da Bahia,sobrepondo-se à autoridade dos juízes, conseguiu fazer a cabeça da mesa organizadora invertendo o resultado que me proclamou vitorioso na final de 1977.
       Notei seu constrangimento ante a minha pergunta na presença de todos,mas eu precisava de uma resposta. Lacônicamente, ele me respondeu que o motivo foi uma tesoura que o adversário me aplicou. Pura mentira! Os árbitros teriam visto esse golpe que não existiu,além de não precisar de todo o "circo"que foi armado. Isso sem contar com a explosão de alegria demonstrada pela platéia (Dizem que a voz do povo é a voz de Deus) e o quase-caos instaurado com a "manipulação" fraudulenta.
       Vou contar para vocês os FATOS que ocorreram durante o evento:


1)  O resultado final foi baseado na opinião de três juízes: Dois laterais,cada um empunhando duas bandeirinhas de cores diferentes,representando cada atleta. Um central que moderava a conduta dos participantes e determinava ou não a vitória caso houvesse um empate entre os laterais.
    Depois de diversas prorrogações por falta de combatividade, cada juiz lateral levantou uma bandeira diferente. Empate !!!  Então o juiz central levanto o meu braço declarando-me vencedor.


2) Como disse no início,a manifestação do público presente foi inesquecível. Invadiram  o espaço central da sala do clube Guanabara onde ocorreu o evento para me abraçar e cumprimentar. Os amigos de equipe e outros que foram até o Rio de Janeiro assistir o campeonato,também me envolveram num clima de alegria contagiante. Neste exato momento lembro-me de pessoas como a minha ex-mulher Leila,o campeão dos leves Monera,o Edu que filmou alguns lances,meu sobrinho Felipe,o mestre Camisa,o mestre Mudinho,o mestre Itamar, o mestre Tabosa(Juiz e técnico da nossa delegação) entre muitos outros.


3) Durante a festa instaurada pelo público em função da minha vitória,pude observar a equipe da Bahia correndo em direção à mesa organizadora.  Minutos após o porta-voz da mesa se manifestou publicamente para inverter o resultado que já havia sido consagrado pelo juiz e pela multidão.  A alegação que usaram foi a de que eu teria colocado um pé para fora da roda ,num determinado momento. Além da ilicitude do ato da mesa,ela considerou um mero detalhe mais importante do que todo o contexto. Lembro-me de uma charge onde uma pessoa estava na iminência de içar uma outra com uma corda amarrada no pescoço alegando a necessidade de retirar uma nota de cem dólares que estava sendo pisada.Rsrsrsr


4)  A grandeza de manifestação de alegria pelo público ao me ver campeão,foi substituída pela desordem ao ouvirem a inversão do resultado. Haviam apenas dois segurança para todo o evento e logicamente foram insuficientes para conter a turba ensandecida. Fato engraçado,mas digno de nota,foi o "Pagadão "que o Gigante ,mestre Itamar deu num dos seguranças.  Mas nada disso adiantou e mantiveram o resultado.
  Talvez numa tentativa de compensar a fraqueza moral da mesa frente à "Fôrça "política ,ainda presente, da Bahia,concederam-me um troféu de destaque técnico (Oferta do mestre Bogado) além da capa de uma revista,onde apareço jogando com o atleta do Paraná (Por sinal,grande capoeirista).


5) O mestre Acordeon ,como cavalheiro e bom esportista,veio cumprimentar-nos ,enaltecendo as qualidades de todos os componentes da nossa equipe,além de eximir-se de qualquer culpa em relação ao ocorrido. Ao estender a mão à minha ex-esposa,inconsolável e em  prantos  ,não foi correspondido. E ainda por cima foi maldosamente chamado por ela de "Sanfona "Rsrsrsrsr.


FATO CURIOSO QUE ACONTECEU DURANTE A NOSSA ESTADA NO RIO DE JANEIRO.


    Encontrei um cara na rua vestido com motivos militares. Ele me chamou pelo nome,me cumprimentou e perguntou pela capoeira. Pedí-lhe desculpas por não estar lembrando da sua pessoa. Ele reforçou dizendo-me que havia estudado comigo no curso pré-universitário em Brasília. Haviam passado sete anos desde que eu fui aluno do cursinho. Neste momento aglomerava ao nosso redor, um grupo de pessoas estranhas ao nosso grupo. Meus amigos cochichavam-me no ouvido o nome da pessoa,mas isso me dizia muita coisa.  O cidadão,usava uma boina preta com uma estrelinha afixada. Contou-me que costumávamos ficar sentados na última fileira da sala,junto com o "Tio ",o Édsel Fantasinni,o baixinho e o grandão.  Ele tocava violão e cantava nos intervalos das aulas. A turma que sentava nas fileiras da frente era composta de "filhinhos de papai"os quais nos odiavam pela nossa irreverência e pela voz de "Taquara rachada" do Raimundo Ceará.
Finalmente eu me lembrei do amigo e compreendi o motivo da aproximação dos fãs em torno de nós.  Eu estava diante do,já-famoso FAGNER,o qual acabara de lançar o seu primeiro LP.




As provocações que os componentes da equipe da Bahia faziam quando passavam por nós eram na forma de gesticulações e caretas.  O mestre Acordeon,de camiseta regata,lembrava muito o inesquecível Freddy Mercury.


O saudoso mestre Eziquiel teve uma participação infeliz no campeonato ao ser surpreendido por uma tesoura certeira executada pelo também falecido Carlão( Muzenza,Pelezinho) meu ex-aluno e depois do mestre Peixinho. O Muzenza era um excelente capoeirista,mas com um comportamento reprovável que culminou com o seu assassinato. No campeonato,ele  representou a equipe do Rio de Janeiro.


O mestre Monera,meu ex-aluno e formado pelo mestre Tabosa,sagrou-se campeão dos leves ao executar uma belíssima cruz no adversário.


O mestre Acordeon era famoso pelas suas bandas de frente. Ele simulava um martelo e produzia um ruído ao bater com a palma na face lateral do pé. O adversário,assustado,esquivava-se descuidadamente ,colocando-se na posição exata para que ele executasse a banda.
  Eu observei essa característica dele em outros campeonatos e procurei adequar a velocidade dos meus golpes de modo a não telegrafar.
   Outra característica dele era a de armar uma "boca-de-siri "forçando o adversário a sair de Aú para aplicar-lhe uma cabeçada.


Eu possuía um filme em super-8 que registrava o meu jogo com o atleta do Paraná e alguns lances do meu jogo com o Acordeon.  Infelizmente  a filmadora não conseguiu captar tudo porque estava anoitecendo e a sua sensibilidade luminosa era pequena.  Além disso me roubaram a fita em Brasília.
 Na parte visível do filme que onde eu jogava  com o Acordeon via-se um lance,de certa forma engraçado,onde caímos os dois juntos em direções opostas. Eu o atingi com uma bênção ao mesmo tempo em que ele me desequilibrou com uma rasteira.


Outro lance que considerei desleal,mas sem maiores reprimendas por parte do juiz,foi quando o Acordeon me atingiu a genitália com uma ponteira. Não fosse a minha defesa parcial com a mão direita,o estrago seria imprevisível. A minha mão ficou muito edemaciada com o derrame causado pelo chute.
Caí me contorcendo em dor;mas nem o estado no qual me encontrava,impediu de me manifestar contra a atitude de um pseudo-socorrista querendo aplicar gelo diretamente sobre as minhas partes íntimas.Rsrsrsrsrs   Qual é meu irmão?!?!?!


Confirmei durante as lutas o resultado do treinamento intensivo que empreendi antes do campeonato.  Os amigos em Brasília costumavam me dizer que o Acordeon estava treinando intensivamente para me pegar. Mesmo sendo brincadeira,eu encarava com seriedade, intensificando  a velocidade e potência dos principais golpes. Esta ,sempre foi a nossa característica : - A preocupação com a LUTA CAPOEIRA.
  Conseguí acertar o peito do Acordeon sem que ele nem manifestasse iniciar um contra-ataque com suas bandas fatais. Ele tossiu levando a mão ao tórax ao mesmo tempo em que se ajoelhava sobre uma perna apenas.
  Antes do início de um jogo das diversas prorrogações,conversamos um pouco ao pé do berimbau.  Ele elogiou-me dizendo que "eu era bom". Fiquei lisonjeado até o momento em que ele completou: - "Eu digo isso porque eu sou bom e posso dizer".  Um ex-aluno meu ao contar esse fato para uma filha do Acordeon,teve como resposta: - "Ah! Isso é típico do meu pai!"rsrsrsrsrr
  Ainda no pé do berimbau,disse-lhe que agora eu iria golpeá-lo no peito com a perna esquerda. Ele riu e desdenhou.  Prometido e cumprido! Novamente não viu de onde saiu a chicotada. Repetiu-se a cena anterior. Digno de nota era a diferença de tamanho entre nós dois.
   De qualquer forma eu enfrentei um grande mestre,acostumado a vitórias sucessivas,mas que não podia imaginar-se em situações adversas,como a que ele vivenciou.


   Deixo-lhes estes fatos,para que exercitem os julgamentos lógicos. Não os conto para desmoralizar quem quer que seja,ou para me promover,haja vistas que sou apenas um capoeirista,com todas as falhas inerentes ao ser humano e sem nenhuma intenção de tornar-me evidente.  Acredito que devamos ser mais justos do que bons.  A tradição oral como o próprio nome diz,não tem a participação da escrita e portanto não representa a HISTÓRIA,deixando-nos a mercê de uma maquiagem temporal da verdade.
 Aproveito este final,para deixar-lhes um resumo histórico contado em dezessete versos feitos por mim alguns anos após o Campeonato brasileiro de 1977:



                             VOU CONTAR UMA HISTÓRIA
                             DUM MENINO CAPOEIRA
                             O QUAL LEVAVA A SÉRIO
                             A RODA DE BRINCADEIRA


                             ERA DESACREDITADO
                             SUA FAMA INEXISTIA
                             NÃO VEIO DE BERÇO NOBRE
                             NEM PASSOU PELA BAHIA.


                             SEU MARTELO ERA UM RAIO
                             MEIA-LUA UM FACÃO
                             OBJETIVO,O SEU LEMA
                             COMPLETA DEDICAÇÃO.


                             NUNCA FOI MAIS QUE NINGUÉM
                             NEM TAMPOUCO MANDINGUEIRO
                             NÃO TINHA CORPO SARADO
                             MAS TINHA GOLPE LIGEIRO.


                             CAPOEIRA FOI CHEGANDO
                             MAS NÃO ERA COMO ESPORTE
                             QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA
                             PARCEIRA DE VIDA OU DE DE MORTE.


                             NÃO APANHAR MAIS NA RUA
                             FOI SUA FILOSOFIA
                             HOJE TUDO É BRINCADEIRA
                             NUMA RODA DE ALEGRIA.


                             FEZ ESCOLA E MUITO ALUNO
                             SEMPRE COM MUITA HUMILDADE
                             FEZ DAQUILO QUE FAZIA
                             UM ORGULHO PRA CIDADE.


                             MAS O PONTO CULMINANTE
                             DESSE MENINO GUERREIRO
                             FOI QUANDO NO ISOLAMENTO
                             TREINOU DURO UM ANO INTEIRO.


                             FOI POR CAUSA DE UM CONVITE
                             QUE FIZERAM OS COMPANHEIROS
                             PRA LUTAR COM UM GRANDE MESTRE
                             LÁ NO RIO DE JANEIRO


                             ERA UM MESTRE RESPEITADO
                             CONHECIDO VENCEDOR
                             SEU NOME ERA TEMIDO
                             CAPOEIRA DE VALOR


                             MAS A VAIDADE CEGA
                             E O ORGULHO,ESSE DOENTE
                             ROUBA DO HOMEM OS SENTIDOS
                             NÃO ENXERGA UM PALMO À FRENTE


                             NÃO PODIA IMAGINAR
                             DOS PÉS DE UM DESCONHECIDO
                             MARTELOS COMO CHICOTES
                             DEIXANDO O ORGULHO FERIDO


                             A VITÓRIA PROCLAMADA
                             ENDOIDOU A MULTIDÃO
                             A QUAL APLAUDIA DE PÉ
                             O MENINO CAMPEÃO


                             ALEGRIA DURA POUCO
                             NUM ATO PRECIPITADO
                             TIRARAM-LHE O DOCE DA BOCA
                             INVERTERAM O RESULTADO


                            A MULTIDÃO REVOLTADA
                            COMEÇOU A CONFUSÃO
                            NÃO ACEITARAM A COVARDIA
                            CONTRA O LEGÍTIMO CAMPEÃO


                          
                             MAS NADA ADIANTOU
                             E O RESULTADO FOI MANTIDO
                             COMEMORAÇÃO DA "NOBREZA "
                             SOBRE UM CORAÇÃO PARTIDO.


                             MESTRE ,SIGA O TEU CAMINHO
                             E LEVA ESSE TROFÉU PESADO
                             COMEMORE COM OS SEUS PARES
                             ESSE TÍTULO FORJADO.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Na academia do mestre Tabosa.

Certa vez aconteceu um fato interessante,numa das rodas de sábado,na academia do mestre Tabosa. O endereço era na avenida W3 sul ao lado da biblioteca.
  O mestre Fritz apareceu acompanhado de um capoeirista,o qual foi apresentado a todos os presentes,como discípulo do mestre Acordeon. Disse ainda que ele estava com projetos de ensino em Brasília dirigido a todos que se interessassem.
  Uma característica que eu observei na grande maioria dos capoeiristas que aqui chegavam,era a completa falta de modéstia,quando interagiam com os mais novos e supostamente inocentes.
  Existe uma cantiga de maculelê que diz mais ou menos assim: - ....."chegando em terras alheias,pisar no chão devagar". Mas a filosofia só funciona se for aplicada,e não era o caso deste baiano.
  O mestre Fritz hipertrofiou tanto o ego do indivíduo com elogios fazendo-o olhar-nos todos como meros neófitos.
  Logo fui convidado para jogar e pude perceber o seu "bate-asas"na minha direção.
  Dele só me lembro de um cordão com um crucifixo em ouro,o qual foi arremessado ao teto da academia,sob o impacto da minha meia-lua-de-compasso.
  Nunca mais se ouviu falar do tal sujeito.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Um pouco de historia

Comecei praticando judô,por volta de 1963, no Colégio do Setor Leste com excelentes mestres da época.

Fazia parte do currículo estudantil como opção para aqueles, que não gostavam de futebol .

Eu gostava da capoeira, mas continuei praticando o judô no Colégio Elefante Branco (CEMEB) onde fiz também o segundo grau.

Nesta época eu já possuía bons conhecimentos de capoeira . Meus primeiros "alunos", também eram,alunos do Colégio do Setor Leste,exceto  dois irmãos, moradores na SQS 306 e filhos de um gerente de banco estadual. Eles formaram-se depois em engenharia e análise de sistemas. Um de seus primos tornou-se piloto de aeronaves .  O quarto, trouxe os demais para o nosso grupo. Ele foi o propagador dos nossos encontros  para o resto da família . Foi também um grande corredor dos COBRAS do DF, além de  excelente profissional na área contábil. Pouco tempo atrás eu tive o imenso prazer de revê-lo,junto com a companheira, na roda domingueira do mestre Kall - São motoqueiros como eu.  Ele se identificava como um rapaz alto,de bons costumes e tímido. No Colégio do Setor Leste, como em todos as escolas,sempre existiram aqueles que chamamos de "Bullies".   São os valentões,oportunistas, maus-elementos, aproveitadores da fraqueza de uns, para saciar os seus instintos selvagens .  Este rapaz sempre foi maltratado por um indivíduo que também estudou no CSL.  Sujeitava-se a todo tipo de humilhações por parte do tal sujeito. Um dia,quando eu estudava em casa, ele passou ao lado da minha janela e disse-me que iria finalmente ajustar as contas. Eu não dei muito crédito e continuei a estudar. No dia seguinte soube que o mau-elemento estava internado no "Hospital Distrital"( hoje Hospital de Base) com a mandíbula toda quebrada.  
O meu aluno,realmente cumpriu o prometido.  O cara ameaçado, não acreditando no que presenciava,partiu para cima do meu aluno. Ele deu muitas voltas em torno do valente sem tomar qualquer decisão,mas deixando-o ameaçar até cansar.  Súbitamente o meu aluno começou a retirar a  sua camiseta,induzindo o adversário a fazer o mesmo. Ele não completou a retirada,parando a camiseta na altura dos olhos atentos.  Em contrapartida o adversário completou a retirada da camiseta e obstruiu momentaneamente sua visão. Meu aluno aproveitou-se da sua falta de malícia  e atacou-o com uma banda trançada.  Antes mesmo da queda se completar, recebeu um chute na face com a outra perna ,resultando no que descrevi acima.  Nunca mais se ouviu falar de qualquer covardia praticada pelo tal sujeito.        Haviam mais dois alunos,além do "vingador" que moravam num acampamento,onde hoje situa-se a SQS 207.  Um deles, veio a falecer de um câncer de estômago,faz alguns anos atrás. Seu pai tinha um programa numa rádio local sobre astrologia. Era um capoeirista dotado de uma grande leveza e agilidade. Guardo uma foto de 1969,publicada no correio braziliense,onde ele aparece ao fundo juntamente com outros famosos capoeiristas da época . O outro era mais gordinho,cearense, de poucas palavras e um nome  incomum . Quando o mestre Tabosa começou a ministrar aulas na FAUnB em 1970,começamos também a batizar todos os nossos alunos. O  cearense,não gostou da idéia, pelo motivo de ser mais antigo que os demais na capoeira . Mesmo assim não foi poupado de levar um  martelo preciso no peito. Terminei o jogo considerando-o batizado. Ele inconformado, me puxou para o pé do berimbau,dizendo que o jôgo ainda não havia acabado. Interpretei aquilo como uma ameaça com a finalidade de revide. Então,o rapaz mal-educado, levou um outro martelo no peito,mas  desta vez com mais forte. Ele sentiu-se ferido,físico e moralmente,mas dei-lhe a oportunidade de descontar.  O sistema  no início era violento ,pela forma como batizávamos.   Neste mesmo evento,realizado num dos anfiteatros da ala sul do minhocão da UnB,batizei um  capoeirista,aluno do mestre Tabosa, o qual viria a tornar-se  o líder de um grande grupo.. Este aluno do mestre Tabosa,hoje em dia não o reconhece como seu mestre,dizendo-se  um auto-didata cuja iniciação deve a um ex-aluno meu.??????  Ele talvez não se lembre da bênção que lhe apliquei no peito,cuja intensidade arremessou-o sobre a segunda fileira de cadeiras,dois níveis acima.       Realizávamos treinos, ao cair da tarde, em frente a uma pedreira que existia dentro do acampamento onde hoje existe a SQS 207 .   Estes primeiros alunos, logo começaram a difundir o que eu lhes ensinava .  Um desses aprendizes dos meus alunos,havia me armado uma cilada no Colégio do Setor Leste em 1964 . Era um negro alto, forte e conhecido pela sua fama de brigão.   Eu mal começara o primeiro ano do ciclo ginasial e durante o recreio eu me encontrava na frente da cantina da escola,junto com alguns amigos.  O tal negro passou diante de mim e fiz a besteira de repetir um apelido que alguns de seus amigos lhe chamavam - "Das nuvens"-  . Penso que deveria ter ficado calado, mas agí inocente e precipitadamente pensando em me entrosar no meio da galera, sem pensar nas consequências. E para a minha surpresa, o famoso negão-encrenqueiro-da-quadra, partiu na minha direção mal-intencionado.  Mesmo sem nenhum conhecimento de capoeira ainda, mas por sentir-me acuado,  eu não hesitei em aplicar-lhe um golpe certeiro no peito,cujo nome conheceria mais tarde,como a bênção . O valentão foi derrubado para fora do piso da cantina. Ele ficou atônito com a inesperada atitude que  tomei. Os espectadores não acreditaram no que estavam presenciando. Tratava-se de algo inusitado, o fato de alguém enfrentar o terrível valentão do colégio. Ele não revidou de imediato,seja pelo receio da repercussão junto à diretoria, ou seja pela característica comum aos covardes e oportunistas,cujas ameaças por gritos e gesticulações,postergam a retaliação para outro momento.   Senti mêdo,mas a lógica me tranquilizou, ao notar que toda aquela encenação tinha o objetivo único de reduzir a minha auto-estima . Soou a sirene da saída e lá fora do colégio, encontrava-se reunida uma platéia,formada na sua maioria por meninos,sedentos por assistir a uma boa briga. Muita semelhança com as rinhas de galo ou de pássaros, touradas, cristãos jogados aos leões ou os combates sangrentos dos gladiadores no antigo Coliseu. Os espectadores fecharam um grande círculo em cujo centro  encontrava-se o brigão.  Sem camisa e todo cheio de empáfia,gesticulava e  fazia caretas para a platéia ansiosa. Não devia estar tão confiante assim,haja vistas ter experimentado a desmoralização que  abalou a sua imagem e supremacia na hora do recreio.  Quando começamos a briga ,até que as coisas estavam indo bem para mim,não fosse a interferência da sua turma.  Eles me agrediam nas costas com socos,chutes e empurrões,cujo desequilíbrio me projetava na direção do inimigo . Ao me virar para procurar o responsável, me esquecia do adversário,o qual me desferia um forte sôco na parte posterior da cabeça.  E assim fui apanhando muito deles. Ninguém interferia em meu favor.   Vocês não podem imaginar a expressão de tristeza e desespêro, estampado nas faces dos meus pais quando me receberem em casa com o rosto deformado e ensanguentado.  Foi algo inesquecível! Mas em 1965 comecei a praticar a capoeira,COMO LUTA,sem me importar com seus fundamentos tradicionais,os quais para mim tornavam-na fraca em combatividade!!!


O tempo passou e o valentão  começou a treinar com estes meus alunos lá do acampamento da 207 sul . Eu ficava imaginando qual seria o motivo pelo qual ele teria tanto interesse em aprender a capoeira ,pois considerava-se o bam-bam da briga-de-rua. Talvez  seja porque sua auto-confiança não era tão elevada assim,ou então por saber quem era o instrutor de seus amigos .  Sei lá!!   Depois de um certo tempo voltamos a conversar como se nada houvesse acontecido no passado.

Um belo dia eu estava treinando armadas na entrada "E" do bloco 15 da SQS 410 onde morei até julho de 1977.  Eu costumava usar uma caixa de papelão dobrada em sí para dar a consistência de uma tábua comprida e a semelhança de um braço estendido à minha frente.  Prendia uma de suas extremidades, ao fechá-la entre  as duas portas da entrada do edifício .  Era a maneira que eu encontrava de treinar sozinho,pois não encontrava alguém que suportasse o impacto dos meus golpes em suas mãos,repetidas vezes. Num desses treinos,o "Cara"apareceu.  Reduzi imediatamente a velocidade e a intensidade das armadas,para não assustá-lo.   Nos cumprimentamos e ,conversa-vai-conversa-vem, sugeri educadamente ,que fizéssemos um treininho, ali mesmo,sem berimbau,de modo que eu pudesse avaliar os seus progressos . O cara aceitou sem titubear. Inicialmente treinamos uns golpes nas mãos protegidas por chinelos de borracha . Não demonstrei-lhe a potência dos meus golpes,mas o incentivava a bater nas minhas mãos com toda a intensidade possível. Assim eu escaneava totalmente o negão. A seguir comecei um gingado à sua frente,o qual foi imediatamente correspondido por ele. Soltei alguns movimentos e deixei-o fartar-se com diversos golpes traumáticos sobre o meu corpo. Isto aumentava a minha ira pela dor que me causava,ao mesmo tempo em que fazia exaurir suas energias.  Gradualmente eu ia aumentando a minha auto-confiança, pois apesar da diferença corporal ser notável,ele não desferia nenhum golpe que me abalasse. Eu fingia ser um alvo-fácil, atraindo-o  para o meu raio de ação . O fazia  acreditar que estava levando vantagem atingindo-me  facilmente com golpes que apenas me causavam hiperemia cutânea. Um dos princípios da capoeira é o constante vai-e-vem. Quando o alvo parece de fácil acesso,o capoeira avança desconfiado,mas prestes a recuar; logo em seguida volta a avançar,e apenas quando as condições se tornarem favoráveis ataca definitivamente. Nunca fica próximo por demasiado tempo ,mesmo quando o adversário aparenta estar ferido.  Esta passividade, pode ser uma cilada para deixá-lo no tempo e espaço da execução. E neste sentido, o negão , estava se deliciando com a moleza em me atingir nos braços, pernas,abdome, sem que eu esboçasse qualquer reação.  Depois de trabalhar todas aquelas variáveis ,eu me enchi de confiança e desferí-lhe um pisão(Escorão), com a perna direita partindo da segunda base e atingindo-lhe em cheio o centro do abdome. O movimento foi tão forte,que eu senti minha planta  tocar  sua coluna vertebral lombar.  Suas mucosas empalideceram enquanto experimentava  uma queda gradual . Fez algumas convulsões que me assustaram. Pensei com meus botões: - Matei o cara!!!   Tratei de socorrê-lo,mas com a cautela instintiva dos predadores menores, os quais certificam-se antes da veracidade absoluta do abate . É o conhecido de todos : -  "Não catucar a onça com vara curta".  Quando atestei o nocaute,arrastei-o para a entrada mais próxima do edifício,enquanto a vizinhança já se empoleirava toda curiosa, sobre as janelas.  Felizmente nada aconteceu de grave com o valentão,cuja recuperação dos sentidos foi acontecendo aos poucos .  Desde aquele dia ele passou a me respeitar.   A notícia se espalhou rapidamente e todos os outros maus-caracteres das redondezas,passaram também a me respeitar.   Surgia a partir daí, um mito em torno deste acontecimento. Certas pessoas,insatisfeitas, começaram a dizer que eu fiz aquilo por vingança. Outras disseram que foi covardia da minha parte por estar em condições técnicas melhores do que as dele. Não mencionaram alguma só vez ,a diferença física que existia entre nós, nem o fato de que a primeira briga poderia  tranquilamente ter sido resolvida,sem eu saber nada de capoeira,mas sem a participação da sua gangue  . Um dos participantes da "muvuca" que covardemente me espancou,morava na 409S e era também metido a brigão. O bichinho era feio-de-doer. Parecia que fazia um peeling facial diariamente . Era um covarde,oportunista. Só brigava com o respaldo de outros. Seu irmão era metido a valente também,mas andei dando-lhe umas porradinhas. Um outro,famoso valentão da quadra,recebeu uma encarada minha por tentar me tomar uma pipa-voada que eu havia pego. Era um cara de olhos azuis e cabelos claros. Armava o maior terror na quadra. Não quis me encarar e foi embora.  A capoeira já começava a dar respeito aos seus praticantes.   Esses caras faziam fama em cima dos mais fracos,  agredindo-os ,inesperado e indefensávelmente . Depois entrava a turma –do-deixa-disso separando os participantes da briga - relâmpago e deixando o valentão com a glória da vitória enquanto o agredido,ferido e desmoralizado. Outros,como abutres,ainda mais covardes, aproveitavam o que sobrou da briga  para deixar também a sua marca num corpo inerte .  E desta maneira caminha , boa parte da humanidade.

Conhecí umas academias no Rio de Janeiro (Piedade) onde aprendi coisas importantes .   Faltava-me  executar no berimbau,uma nota cuja ausência deixava o ritmo incompleto. Um mestre do subúrbio da Piedade, também policial civil , tirou-me definitivamente essa dúvida atroz. O som que me faltava era simplesmente aquele resultante da simples pressão,sem percussão, da moeda sobre o arame vibrando.  Nos encontramos apenas uma vez,mas foi o suficiente para dar continuidade ao que me faltava como iniciação aos mistérios do grande "Mestre berimbau". A  única lembrança física que  guardei dele,foi a de um estigma facial , pela perda de um dos globos oculares.  Não o vi jogando e nem sei se ainda jogava. Ele ensinou o mestre Russo( O qual também nunca mais tive notícias). Vejam só a importância e o alcance daquilo que ensinamos. Devemos ser auto- críticos em relação ao conteúdo dos nossos ensinamentos,pois nada se apaga, e suas repercussões são as mais variadas.  O que plantamos poderá não ser colhido por nós mesmos, mas o que fecundar ,com certeza, será semelhante àquilo que plantamos...com o joio do lado.

 Ainda a respeito dessa academia  no Rio de Janeiro ,lembro-me que participei de uma apresentação deles na antiga TV TUPY Canal 6,onde funcionava,outrora,o famoso cassino da Urca. O grupo foi levado pelo mestre Russo,do qual já lhes mencionei a origem.  Ele era um indivíduo alto e muito branco,daí o seu apelido . Seus capoeiristas trajavam uma calça folgada de brim azul,com uma franja branca costurada na boca de cada perna. Na cintura uma corda acetinada com um destaque nas pontas.  Na parte superior usavam uma camisa de cetim sem botões,amarrada na frente por um nó simples . Durante algum tempo adotei este uniforme, sem a camisa. Fiquei muito honrado por terem me convidado a participar desta apresentação na televisão .  Existiam duas figuras inesquecíveis no grupo : - Uma delas,era um indivíduo com um esteriótipo nordestino. Não jogava bonito,mas era mestre em quebrar com a cabeça algumas telhas empilhadas, após saltar sobre elas. Apesar de estarem acolchoadas sob uma lona dobrada,era com certeza, um feito inusitado. Sua façanha,parecia mais com aquelas realizadas por praticantes de artes marciais orientais.

A outra tratava-se de um rapaz,muito forte,originário de um circo. Ele tinha total domínio do corpo. Depois da apresentação na TV ele fez uma bananeira na murada que contornava toda a praia da Urca. Além dessa murada,ficava um precipício ,onde o mar, batia sobre as rochas.  Eu gostava de um desafio,mas quando avaliei a possibilidade de uma queda fatal, desistí de imitá-lo. Ele era fantástico! Nem o vento o incomodava. O que compensou a minha frustração em não ter realizado a bananeira,foi o acréscimo de conhecimentos úteis sobre a capoeira. O rapaz acrobata ,não demonstrava mais eficiência durante o jôgo ,apesar da sua desenvoltura circense. Era mesmo até um tanto desajeitado. Aos poucos eu começava a entender que a capoeira não era somente desenvolvida sobre corpos ágeis.

O Russo e seu grupo ,perguntou-me depois a qual grupo eu liderava. Estranhei a pergunta e cheguei a rir achando que estavam zoando comigo. Apesar de já estar dando aulas em Brasília,minha autocrítica não me fazia imaginar que o meu desempenho pudesse produzir respeito e admiração nas pessoas fora de Brasília. Eu pensava que os melhores encontravam-se sempre nos outros estados. E nesse sentido,eu sepultei definitivamente essa crença,quando disputei o campeonato brasileiro em 1977 com um adversário da Bahia .   Eu  pensava ser apenas mais um cara esforçado em busca de novos conhecimentos,mas cujas fronteiras certamente estariam muito além do meu alcance.    Lêdo engano!!!!!!.

. Através da consideração e do tratamento recebido pelos membros daquele grupo, eu definitivamente me conscientizei de  já estar pertencendo uma classe de capoeiristas de conteúdo.

 Voltei a Brasília,todo cheio de si, tocando berimbau razoavelmente bem, com a auto-estima elevada, e principalmente por ter conhecido  capoeiristas antigos,cujos elogios e palavras de encorajamento, fizeram-me acreditar que estava  trilhando o caminho certo.

   Um pouco antes de iniciar a minhas atividades no Colégio Elefante Branco(CEMEB),fiz uma passagem curta por um local, chamado na época, pejorativamente de “Curral-das-éguas” (Depois foi um laboratório de biologia do CEUB e hoje me parece pertencer ao curso PROCESSUS).  Ficava exatamente entre a academia Júlio Adnet(hoje um centro-clínico),o colégio Rosário e o Colégio Elefante Branco.  Quando comecei a estudar o segundo grau neste último, submeteram-me ao famoso trote,com a raspagem da cabeça,pinturas pelo corpo,etc.,etc. Diga-se de passagem,por vontade própria,pois os veteranos hesitaram em aplicar o trote sem a minha anuência.  Nesta época eu ainda dava aulas no “Curral” ,do qual guardo algumas fotos onde apareço com o cabelo começando a crescer em consequência do trote(1968).

 No CEMEB (Elefante Branco) eu conhecí um grupo coordenado pelo irmão do famoso líder estudantil da UnB(Honestino) desaparecido na época repressiva da ditadura militar. Este capoeirista foi aluno do mestre Cláudio Danadinho. Um de seus componentes era um negro carioca  do bairro do Méier, apelidado de “Azeitona” . Tratava-se de uma excelente pessoa,muito animada e carismática.

Durante a única roda que participei com eles no estacionamento do CEMEB,joguei com a turma de um modo mais duro e ligeiro, deixando uma grande impressão.

O grupo se desfez sem que eu soubesse para onde foram.

 Um grupo de amigos do CEMEB,muitos dos quais, são hoje pessoas de bem, sabendo da minha fama de capoeirista,convidaram-me para começar uma turma no Elefante Branco em 1968. Um deles,é hoje  inclusive,um grande oftalmologista,possuidor do martelo-rodado mais alto e eficiente de todos os meus alunos.

Na verdade esta turma teve o apoio,de um  dos maiores diretores que aquele estabelecimento de ensino já possuiu. Grande no tamanho e também no coração. Era professor de educação física e jogou muito basquete. Soube que possuiu uma academia no Lago Norte,mas nunca mais tive notícias suas.

Ele me viu um certo dia, treinando com o meu grande amigo de infância,grande mestre de caratê e um dos meus primeiros seguidores na capoeira. Estávamos no extremo sul do colégio,ao lado da secretaria,quando o diretor chegou e sentou-se para nos ver lutar. Eu me defendia com a capoeira,contra os golpes de porrete desferidos pelo meu amigo,na minha direção. Ele percebendo que deveríamos fazer o melhor para impressionar o diretor,apimentou aquela luta simulada. Recebí um forte golpe no dorso de uma das mãos,cuja dor causada,quase me fez desistir. Mas como reflexo,apliquei-lhe uma veloz meia-lua-de-compasso a qual acertou-lhe exatamente a mão que empunhava o porrete. Este por conseqüência,soltou-se de sua mão e foi parar dentro da secretaria.  O diretor ,ao invés de nos repreender,autorizou-me a ministrar aulas de capoeira no colégio,a partir daquele dia.

 Meu amigo mudou para aquela modalidade por achar-se menos flexível na capoeira. Por outro lado,Brasília ganhou muito com um novo mestre do Karatê.  Até hoje é um grande guerreiro. Estudamos junto no ginásio e no científico. No ginásio tivemos uma briga que nos afastou um certo tempo mas depois resolveu-se com a retorno da amizade. Agradeço-lhe por esta amizade e lealdade a mim. Devo-lhe dinheiro,pelos incontáveis lanches que ele me pagou na hora do recreio,sem nunca ter-me cobrado,ou jogado na cara. Agradeço-lhe pelas roupas que me emprestava na época de festas e pelo carinho com o qual seus pais me tratavam,quando eu ia visitá-los. Sempre ao cair das tardes,eu ficava esperando-o no estacionamento da SQS409 com os olhos na direção da SQS208. Quando sua imagem surgia gradualmente ao longe com um porrete na mão,sabia que estava prestes a começar uma série de treinamentos. Certa vez, quando ele já estava praticando Karatê( Começou com um mestre japonês na SCS408), fomos visitar uma bela menina que morava na SQS 214 e era o sonho de muita gente no colégio do Setor Leste. Para a nossa surpresa, ao entrarmos numa quitanda da quadra para comer umas frutas,notamos do lado fora,uma turma de marmanjos nos esperando sair para nos juntar. Tudo por ciúmes da tal garota que fomos procurar.  A diferença numérica era considerável. Tivemos uma idéia brilhante, a qual nos livrou de sermos massacrados. Pura estratégia!!!

-  Mas funcionou!

Cada um pegou um caixote de madeira na saída da quitanda. Ele quebrou o dele com um sôco seguido de um kiái. Eu  lancei o meu para o alto e quebrei-o com um forte martelo.

O braço esquerdo do meu amigo e a minha perna direita,ficaram espetados por farpas de madeira ensanguentadas.

Saímos ilesos, por entre os nossos inimigos.

  Numa outra situação,fomos para uma festa de quinze anos da irmã do GUINZA(Um rapaz filho de japoneses),onde usei o meu primeiro terno (Azul-marinho) comprado com muita dificuldade pelo meu pai,numa alfaiataria situada,na época,acima da BIBABÔ.   Percebi um corre-corre lá fora,acompanhado de gritos,muito antes da valsa da meia-noite.  Saí  para ver o que estava acontecendo. Muita gente fez o mesmo. Meu amigo estava brigando com um indivíduo. Ele levava vantagem e chegou a quase desmaiá-lo,simplesmente puxando-o pelas duas mãos de encontro a um poste . Parecia uma comédia cinematográfica!

Estava tudo sob controle, não fosse a interferência de alguns amigos do adversário saídos de uma Kombi,para socorrê-lo e juntar o meu amigo .

Quando sentí a covardia entrei na briga,sem mesmo retirar o paletó do terno. A pancadaria começou a atingir novos alvos.

Eu estava usando um sapato social com sola de couro e  brigava sempre sobre o asfalto de uma das vias transversais que liga a W5 com a W3, na altura dum antigo magazine chamado BIBABÔ(SQS708 )

O meu amigo foi para cima da grama e escorregou. Os caras  aplicaram-lhe um chute,cuja intensidade causou-lhe um ferimento sangraste na face. Quando percebi que estavam lhe agredindo no chão,corri em direção à muvuca e chutei as costas do primeiro cara que estava ao meu alcance,como se fosse uma bola. O cara se contorceu agonizante no chão, em altos gritos.

Meu amigo,ainda atordoado pelos chutes que levou mas aproveitando a preocupação da gangue com o companheiro atingido nas costas conseguiu fugir em desesperada carreira na direção da SQS308. Tentaram perseguí-lo,mas em vão.

A briga continuava até que um deles agarrou-me firmemente pela gola do paletó do meu terno novinho com suas mãos imundas. Não sabia o que fazer para que o cara me soltasse sem estragar o terno . Como eu poderia voltar para a festa todo amarrotado e sujo? E quais desculpas eu daria aos meus pais pelo prejuízo que eu lhes causei com o terno todo danificado?

Resolví,no desespêro, aplicar-lhe uma série de socos consecutivos e alternados usando ambas as mãos e visando o centro da face .  Minhas mãos resvalavam pelas laterais da sua cabeça, não o atingindo-o em cheio. De repente ele me soltou e fugiu ,sem danificar o meu primeiro terno que usei na vida.

Meu amigo escafedeu-se.

De repente me vi cercado por todos a gangue junta , sem que nenhum espectador interferisse em meu favor. Estava perdido, pensei.

E para piorar a situação,surgiu, de não sei onde,o tal que me agarrou pelo paletó e revidei com alguns sôcos ,sem contudo conseguir nocauteá-lo. Fiquei muito assustado com a cena que eu presenciava naquele exato momento. O cara vociferava,praguejando ameaças futuras, enquanto me mostrava o resultado dos socos na sua cabeça . A minha decepção por não tê-lo nocauteado,transformou-se agora  em perplexidade. Eu não estava realmente acreditando no que eu estava vendo. O indivíduo apresentava a face toda ensangüentada  por múltiplas lesões no couro cabeludo causadas pelos sôcos.

 O círculo que a gangue formou em torno de mim começava a se fechar. A minha sorte foi a chegada da polícia,com suas sirenes ligadas em alto som . Os meus algozes nem chegaram a tocar um dedo em mim. Respirei aliviado,pela sorte que tive naquele dia. Voltei para a festa e ainda peguei a valsa. O meu amigo voltou depois com um grande corte no supercílio. Chegando em casa ,notei  que os dois punhos(camisa e paletó) estavam bastante sujos de sangue,quando vistos de contra a luz. Depois fiquei sabendo que a turma com a qual brigamos,pertencia a um bloco carnavalesco  das imediações. Não ficaram ressentimentos.


Uma história contada por um grande mestre do JUDÔ.


Fiz JUDÔ com um grande mestre e juiz internacional(Ele dava aulas no CEMEB e na Polícia federal). Na época do Ginásio eu fui aluno de um mestre que tornou-se um grande orgulho para o Judô de Salvador-BA.  Viveu alguns anos naquela capital mas infelizmente veio a falecer em 2008 aos 68 anos.

 Do mestre de judô do CEMEB  recebi muitos elogios por praticar uma capoeira,considerada por ele, eficiente como defesa-pessoal.  Certa vez ele me contou  a seguinte história:

- No início de Brasília, ele passeava pelo Núcleo Bandeirante(Antiga Cidade-Livre)  quando esbarrou ,sem-querer,num operário trazido de longe para construir a nossa capital. O mestre de JUDÔ(e caratê também) tentou se desculpar, num Português ainda precário mas o indivíduo, insatisfeito sentiu-se com o orgulho ferido por um indivíduo de olhos-rasgados e falando uma língua incompreensível. Começaram as ameaças.  O Mestre empurra o “Candango” confiando nos seus conhecimentos de artes-marciais e para a sua surpresa,o desconhecido desferiu-lhe rápido e instintivamente, um golpe certeiro na sua cabeça. Pelos movimentos que ele gostava de me ver  treinando no salão negro do CEMEB,tenho quase certeza que levou uma meia-lua-de- compasso. O mestre disse-me ainda que conseguiu  recuperar-se da pancada,e mesmo tonto, agarrou o indivíduo aplicando-lhe uma chave-de-braço . Esta é a história que veio-lhe à lembrança ao ver-me treinando a capoeira. Foi emocionante quando ouvi esta narrativa contada por este grande mestre , pelo seu  desprendimento e humildade em relação a um fato que lhe foi desfavorável.  Ficou também demonstrada a presença da capoeira em Brasília desde os seus  primórdios,trazida pelos  nordestinos, trabalhadores temporários, os quais infelizmente retornaram na sua grande maioria para os seus estados de origem,sem deixar-nos  maiores lembranças.


Outras formas de lutar,mas a capoeira sempre presente.


Houve uma época em que o pugilismo era muito presente no nosso meio,através de apresentações de boxe e luta-livre.

 Tivemos grandes disputas entre renomados praticantes. Quase sempre eram acompanhados de apresentações de outras modalidades que faziam as preliminares do evento principal.

 Fiz amizade com grandes nomes do pugilismo. Um grande boxer de renome internacional me convidou para dar aulas no espaço ao lado da antiga academia Júlio Adnet(curral).  Este senhor presidiu a federação de pugilismo,da qual a capoeira era subordinada. Tive oportunidade de viajar para alguns estados brasileiros,durante a sua gestão,para participar de competições  estaduais e  nacionais.  Grandes lembranças do seu Manoel !

 Um lutador muito grande,surgiu aqui em Brasília e participou de diversas lutas-livres. Era meu vizinho na SQS que eu morava. Uma vez estávamos no parque da Água mineral e começamos a ensaiar uns tapinhas. Eu não teria condições de enfrentá-lo corpo-a-corpo pela diferença de tamanho,mas o diferencial se fazia com as bandas e rasteiras que eu dava nele. E quando ele queria partir para o combate agarrado,eu saía "todo ensaboado" de rolê.

Infelizmente morreu jovem num acidente automobilístico na EPTG,quando esta era constituída de apenas uma via.

Outro grande lutador,fez  a fama aqui em Brasília e em todo o Brasil. Porque não dizer,mundialmente? Ele trouxe de Salvador para o DF alguns capoeiristas formados pelo Mestre Bimba  que acabaram radicando-se no planalto central .  Realizavam espetáculos de luta-livre com apresentações preliminares de capoeira. No início apresentávamos eu e o mestre Tabosa mas com a chegada do pessoal da Bahia,reunimos todos juntos.

Recebíamos um cachê modesto,mas inesquecível. Quando passamos a não recebê-lo e com desculpas não convincentes,cessamos também as apresentações. Nesse ínterim,os capoeiras que ele trouxe, preparavam alunos de Brasília,para dar continuidade às apresentações que recusamos de fazer.

(A continuar…..)