segunda-feira, 18 de abril de 2011

ENCONTRO DA VELHA GUARDA NO ZOO DE BRASÍLIA, E MAIS LEMBRANÇAS.


            
   No dia 19 de março de 2011,entre 9:30 e 11:30h ocorreu no zoo de Brasília-DF um encontro da velha guarda da capoeira local,com a participação de vários capoeiristas do mais alto quilate.   Entre os mais antigos,tivemos o privilégio de contar com a presença do mestre Tabosa. Compareceram também os mestres: Monera( Antonio Carlos), Alcides, Luis, Paulo, Carcará,André, Paulao, Gilvan, Jomar, Aranha etc.
   O mestre Monera foi formado pelo mestre Tabosa, mas ganhou de mim esse apelido quando começou iniciou comigo no Elefante Branco.  Estudávamos na mesma turma do curso "Científico "do CEMEB. Por  ser pequeno e muito parrudo,comecei a chamá-lo com o nome da divisão dos seres vivos da qual pertencem as bactérias. Acabávamos de aprender isso nas aulas de ciências naturais.rsrsrrsrsrrsrsr.    Ele faz parte da história da capoeira do DF,também por ter vencido a final dos pesos leves,no campeonato brasileiro de 77. Participei na categoria peso pesado e vencí o Acordeon,para a alegria dos presentes, mas a Bahia convenceu a banca organizadora a retirar a minha vitória  .
   O mestre Monera derrubou o adversário com uma rápida e perfeita cruz.  Ele treinou comigo até o dia onde pensou que me derrubaria com uma banda de costas. O feitiço virou contra o feiticeiro e ele  foi "enterrado "com o mesmo golpe. Naquele momento,pegou suas coisas e saiu sem se despedir. Foi treinar com o mestre Tabosa onde tornou-se um grande capoeira e campeão brasileiro(Ainda bem!!! rsrrs).
    Daquela turma de 68 saíram grandes capoeiristas,como o Dr. José Reinaldo Vieira,possuidor do martelo rodado mais alto que já ví até hoje.  Quem aproximou-se da sua marca,foi o  Renato Pimenta da Veiga aluno do mestre Jomar. O Zé Reinaldo é um conceituadíssimo oftalmologista em Brasília.  Posteriormente foi treinar com o mestre Tabosa.  Eu iniciei muitos capoeiristas que se deslocaram depois para outras academias.   Creio que, por questões de proximidade de suas residências,horários flexíveis ou mesmo porque eu não era muito simpático.  Nunca fui do tipo repressor,mas também não admitia indisciplina. Eu treinava porque gostava. A capoeira era o meu parâmetro para o sucesso em outras atividades. Mesmo precisando da pequena quantia de dinheiro que cobrava dos alunos, não tolerava preguiçosos. E nessa linha de raciocínio, eu não percebia que muitos estavam alí por puro lazer . Eu deveria ter tirado proveito disso através de uma atitude mais simpática , agregadora ao invés de marcial.
   O Ronald hoje é  engenheiro,mas na época era um capoeirista sagaz e um tremendo gozador.  Juntava-se ao Zé Reinaldo para contar histórias fantasiosas a meu respeito para os alunos novatos.  Ele lhes dizia para me pedir que executasse o meu famoso "Aú vocativo " .  Ele descrevia minuciosamente aos alunos, o modo como eu executava tal movimento enquanto a platéia ficava boquiaberta : -  "Começa como se fosse um simples aú, apoiando-se na bananeira  apenas com o dedo mindinho e  logo  individualmente com os dedos seguintes. Depois passa para a outra mão até voltar a ficar de pé. Às vezes ele para na bananeira e solta as mãos e sustenta todo o corpo com a língua " kkkkkkkkkkkkk Quando algum aluno menos ajuizado vinha me perguntar,eu desmentia é claro, misturando desculpas com  gargalhadas. Era divertido !!!.
  O mestre AC,meu primeiro formado,foi também daquela época.
  O mestre Tranqueira também treinou comigo,mas não sei com quem se formou.  Era um negro alto e forte e com grande facilidade de derrubar seus adversários com suas bandas de frente infalíveis.  Um dia,apareceu no CEMEB um ônibus vindo de Matogrosso cheio de mulheres bonitas . O guia que as acompanhava era um professor de educação física com iniciação em capoeira,o qual gostaria muito de voltar a Brasíla e ser meu afilhado.  Não guardei seu nome e nunca mais o ví.  Bem,isso tudo é uma prévia para contar que armamos uma roda de exibição para as meninas.  Quando joguei com o Tranqueira,quase caí  numa de suas bandas de frente.  Sentí meu pé de apoio  arrastado por alguns centímetros e
 sentí um frio percorrendo a espinha.  Quando percebí que não havia caído, me recuperei e partí para cima dele incentivado pelas lindas espectadoras.  O Tranqueira trabalhava numa gráfica e fez alguns cartões de visita para mim. Dava aulas no palácio do comércio entre as quadras 504/505 sul.
Fiquei com um livro mostruário dele, para escolher outros modelos de cartões. Não conseguí entregá-lo porque logo soube de sua morte por hemorragia digestiva em função de uma hepatite fulminante.
    Ainda a respeito do evento do zoológico,soube pelo mestre Alcides,de um acontecimento ocorrido em uma grande roda realizada no colégio agrícola em Planaltina-DF,da qual não participei.
    Um aluno do mestre Sabú de Goiânia,conhecido por Bosquinho  jogou muito duro com o mestre Chibata,para o meu descontentamento e por não estar presente naquele dia.   O rapaz era uma figura bem afeiçoada , de boa família daquela capital goiana, além de ser um grande capoeirista.
    Meu aluno,Péricles Gasparini (Molinha),grande capoeira , primeiro campeão de skate em Brasília , grande funcionário da ONU , residente em NYC,resolveu a pendência.  Ele foi a Goiânia e jogou numa roda de rua com o tal rapaz,aplicando-lhe alguns corretivos pelo que havia feito ao mestre Chibata.
  Fiquei sabendo faz alguns anos,que fui professor de um sobrinho do Bosquinho na faculdade de medicina da UNIPLAC-DF. Disse-me que seu tio tinha fama de brigão e terminou sendo executado enquanto trocava um pneu na frente da casa da namorada,pensando que fora causado por um prego acidental.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Mais HISTÓRIAS

      Conhecí o Mestre Rafael(O líder na época do grupo Senzala) em Brasília  no início de 1969 através do mestre Tabosa. Nos encontramos no Centro de Ensino Médio Elefante Branco- CEMEB onde eu dava aulas. Neste dia realizei uma roda,onde jogamos pela primeira vez. Ele é um indivíduo branco,cabelos louros, nariz helênico e totalmente diferente do estereótipo mestiço dos capoeiristas que eu costumava ver.  Outra característica interessante no seu comportamento,era o seu modo de gingar. Ele não passava o pé que se encontrava na primeira base,diretamente para trás,mas tocava-o antes com sua parte interna ,a parte também interna do joelho da perna de apoio.  Quando o pé que se encontrava atrás na segunda base retornava para frente de modo a refazer a primeira base,tinha que tocar antes o mesmo joelho da perna de apoio,antes de se deslocar para o lado. Dava a impressão que ele estava se deslocando sorrateiramente para diante, sempre ameaçando soltar uma bênção ou uma ponteira baixa(Martelo-de-frente).
     Neste encontro,ele convidou-me a participar do último berimbau-de-ouro no segundo semestre do mesmo ano.
      Uns anos atrás eu vi uma reportagem na televisão,sobre um fazendeiro no norte do Espírito Santo que promoveu uma verdadeira revolução,na sua fazenda e em parte no município. Quase  todos próximos a ele aderiram à capoeira. Os mais antigos,sem condições físicas de praticá-la,compareciam às rodas e simplesmente batiam palmas e repetiam o coro. Pude observar,vaqueiros carregando seus berimbaus no dorso dos seus cavalos. Fabricantes de toneis de pinga passaram a confeccionar atabaques. E assim ele não se afastou das coisas que gosta.

     Eu estava,certo dia, sentado na escada sul que ligava o andar superior do colégio ao enorme salão negro onde eu ministrava as aulas ,todas as segundas,quartas e sextas a partir das 18h.  Meu semblante demonstrava tristeza por não ter condições financeiras de viajar para o Rio de Janeiro onde seria realizado o berimbau-de-ouro. Do mesmo diretor cujo incentivo recebi para dar aulas naquele educandário, iria receber também o apoio financeiro para me deslocar até o Rio de Janeiro.  Ele me percebendo chateado,perguntou-me quanto precisaria para viajar. Eu ,o mestre Tabosa e o Rubinho fomos no fusquinha 1200 deste último. Precisávamos rachar as despesas e caberia a cada um de nós a quantia de quarenta cruzeiros.  O professor Cezar Gonçalves me deu cem cruzeiros e fiquei-lhe eternamente grato. Como esse mundo dá voltas!!!!!  Um dia eu estava de plantão no hospital de Base,nove anos após o berimbau de ouro,quando me chamaram para dissecar uma veia no PS da cardiologia. Para a minha surprêsa eu fui atender justamente a sogra do professor Cezar. Ele estava presente com a sua linda esposa e pude então, com grande prazer, tentar retribuir com o meu ato-médico a grande alegria que ele havia me proporcionado anos atrás.

quarta-feira, 9 de março de 2011

MESTRE TABOSA ME CONVIDAVA A CORRER

          O mestre Tabosa sempre foi o maior incentivador da capoeira no Distrito Federal.   Grande atleta, favorecido por uma compleição física que o dotava com os requisitos mínimos para a prática bem sucedida de qualquer esporte.  Portanto, a capoeira foi facilmente assimilada por sua máquina biofísicomental.
         Tive o prazer de ser convidado inúmeras vêzes para treinar com ele, inclusive no eixo monumental. Saíamos correndo na altura da SQS 208 em direção à rodoviária.  Nós levávamos conosco um menino magrelo, morador de um bloco da SQS 410 em frente ao meu.  Foi um dos meus primeiros alunos.  Algum tempo depois, ele mudou-se para o Cruzeiro ( Só existia o "Cruzeiro velho "naquela época ) e nunca mais tive notícias dele.  Nem mesmo seu nome me lembro mais.  Quem sabe algum dia,tenhamos a sorte de reencontrá-lo e possamos enriquecer este blog com lembranças ,cujo tempo já tenha apagado da minha memória.    O mestre Tabosa notava,como parávamos frequentemente pelo fácil esgotamento físico do menino.  Não demorou muito,para apelidá-lo de PALMO-DE-LÍNGUA.
       Os treinos tinham como base,uma corrida em fila indiana.  Quem estava na dianteira,dava um sinal para que o último,disparasse e se colocasse adiante.  Num dado instante,parávamos e fazíamos as sequências do Mestre Bimba,nos revezando.   A partir destes treinos,começamos a discutir,formas de otimizar a prática dessas sequências.  ADAPTAMOS a forma de executá-las,através  do respeito rígido aos pontos onde os pés e mãos tocavam o solo,após a execução de cada golpe, com o objetivo de não desperdiçar tempo com deslocamentos aleatórios e desnecessários.  Muitos críticos  ANÔNIMOS a estas adaptações ,permanecem ESCONDIDOS SOB PSEUDÔNIMOS impedindo assim que possamos enriquecer o debate.  Eles criticam por exemplo,a forma como apresentei estas sequências no YOUTUBE.
 São críticas na maioria destrutivas,simplesmente pelo desconhecimento dos processos pelos quais tivemos que fazê-lo.   Sempre expliquei que fiz apenas ADAPTAÇÕES,sem contudo ALTERÁ-LAS.  Um dos motivos que tivemos para estes aprimoramentos,foi a realidade da época do início de Brasília.  Comparando  a IDIOLETÍCE, que é um termo que traduz a forma diferente de cada indivíduo falar a mesma língua,com as diversas formas de executar  as mais diversas atividades humanas,percebemos que as adaptações existem em todos os sistemas.como forma de otimização e consequente evolução.  O que não evolui, é FOLCLORE.  A prova disso obtive conversando com o mestre Camisa,o qual me contou que executa as sequências do mestre Bimba, de trinta modos diferentes.
 A nossa cidade,inicialmente é lógico, não possuia nenhuma tradição.  Todos eram estrangeiros. E nesse sentido,até a nossa capoeira foi submetida às mais diferentes formas de testes de eficiência. Mesmo vindo de outros capoeiristas de outros estados,principalmente baianos.
  Ao analisarmos criticamente as sequências,selecionamos os movimentos que pudessem ser melhorados em termos de COMBATE através da aplicação de princípios biofísicos.   Respeitamos e conservamos os fundamentos e a ética que se auto-gerem e caracterizam a capoeira como tal, mas sem contudo esquecer do seu perfil de LUTA...com grande poder destrutivo.
    E assim fomos gerando os nossos descendentes

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

MEU PAI ME ENSINA.

Escreví estas linhas para o Indio do Ave Branca,quando o ví NO ORKUT sustentando o filho nos braços e  deixando apenas os pés do herdeiro,tocar a água da piscina.

Uma imagem,nos provoca diversas possibilidades de interpretação. Da mesma forma temos obrigação de interpretar as diversas imagens(um filme) executadas pelo camarada jogando conosco.  Necessitamos de uma certa desaceleração ao interpretar cada "película".  Quando gingamos,mudamos o referencial , acompanhando,antecipando e compreendendo sem preconceitos.

QUANDO EU ERA PEQUENINO
NUMA MANHÃ DE VERÃO
MEU PAI PEGOU-ME NOS BRAÇOS
ENSINANDO-ME UMA LIÇÃO.

VEJA!! NÃO SÓ COM OS OLHOS
TUDO À FRENTE E ATRAVÉS
ESCUTE O CHEIRO DO MUNDO
PROTEJA A ALMA COM OS PÉS.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE.

Transcrevo aqui o  que enviei ao PORTAL CAPOEIRA

Salve amigos do PORTALCAPOEIRA !
Acompanho,sempre que posso,os acontecimentos relacionados à capoeira,através desse grande difusor da nossa amada arte.
Tive a oportunidade de ler um artigo veiculado por este portal,datado do dia 1 de setembro de 2006,com o título : - "Brasília-DF - Violência e morte - A capoeira chora !!!". 
Lembrei-me do trágico acontecimento onde foi espancado e assassinado brutalmente o jovem Marcos Velasco no dia 10 de agosto de 1993,por um grupo de jovens brasilienses.
Entre os participantes,encontravam-se  monstros travestidos em atletas praticantes de diversas formas de defesa pessoal.
 A capoeira, hoje, 05/02/2011, quando revisei este texto, sendo uma modalidade esportiva tombada como patrimônio imaterial da humanidade,não poderia ficar ausente.  Não preciso discorrer muito,para que todos imaginem o quanto este acontecimento comoveu imensamente a nossa sociedade pela crueldade como seus executores agiram.
  Logo após esta barbárie, as autoridades começaram uma verdadeira caça às academias de artes marciais, buscando  qualquer indício que pudessem reprová-las como órgão educadores.
  Não me visitaram,creio eu, pelo meu trabalho transparente,sempre utilizando a capoeira como um excelente veículo auxiliar na formação  dos jovens .
   Um fato desagradável me decepcionou alguns dias após o fatídico episódio.  O nosso jornal de maior circulação na capital federal - CORREIO BRAZILIENSE- lançou uma matéria inverídica e irresponsável na primeira página. A manchete denominava-se  : -  "GANGUES DO PLANO PILOTO DE BRASÍLIA".  Sobre um mapa esquemático da cidade colocaram diversas bandeirinhas com o NOME de cada uma dessas gangues.  Para a minha surpresa, ví meu nome  escrito em uma dessas bandeirinhas : -  ADILSONCAPOEIRA.  Nome este,símbolo do grupo  liderado por mim durante 24 anos em Brasília.
  Como o meu nome foi parar lá, não sei até hoje o motivo.   Estive em alguns programas locais de televisão e inclusive no próprio CORREIO BRAZILIENSE para saber o porquê de terem maculado um símbolo tradicional na capital do Brasil.  Não me deram  nenhuma resposta convincente. Simplesmente acusavam algum jornalista irresponsável,mas não revelaram nomes e nem mesmo  se importaram em reparar o erro  crasso , do qual só trouxe,vergonha e revolta a mim e a todos que me conheciam.
  Desde então, fui gradualmente acabando com o grupo ADILSONCAPOEIRA, desgostoso pela facilidade como somos destruídos e manipulados por uma instituição cuja função  deveria  ser , a de bem-informar a população que a sustenta, ao invés de levantar precipitadamente,falsos-testemunhos(Art.342) de cidadãos REALMENTE úteis à sociedade