Conhecí o Mestre Rafael(O líder na época do grupo Senzala) em Brasília no início de 1969 através do mestre Tabosa. Nos encontramos no Centro de Ensino Médio Elefante Branco- CEMEB onde eu dava aulas. Neste dia realizei uma roda,onde jogamos pela primeira vez. Ele é um indivíduo branco,cabelos louros, nariz helênico e totalmente diferente do estereótipo mestiço dos capoeiristas que eu costumava ver. Outra característica interessante no seu comportamento,era o seu modo de gingar. Ele não passava o pé que se encontrava na primeira base,diretamente para trás,mas tocava-o antes com sua parte interna ,a parte também interna do joelho da perna de apoio. Quando o pé que se encontrava atrás na segunda base retornava para frente de modo a refazer a primeira base,tinha que tocar antes o mesmo joelho da perna de apoio,antes de se deslocar para o lado. Dava a impressão que ele estava se deslocando sorrateiramente para diante, sempre ameaçando soltar uma bênção ou uma ponteira baixa(Martelo-de-frente).
Neste encontro,ele convidou-me a participar do último berimbau-de-ouro no segundo semestre do mesmo ano.
Uns anos atrás eu vi uma reportagem na televisão,sobre um fazendeiro no norte do Espírito Santo que promoveu uma verdadeira revolução,na sua fazenda e em parte no município. Quase todos próximos a ele aderiram à capoeira. Os mais antigos,sem condições físicas de praticá-la,compareciam às rodas e simplesmente batiam palmas e repetiam o coro. Pude observar,vaqueiros carregando seus berimbaus no dorso dos seus cavalos. Fabricantes de toneis de pinga passaram a confeccionar atabaques. E assim ele não se afastou das coisas que gosta.
Eu estava,certo dia, sentado na escada sul que ligava o andar superior do colégio ao enorme salão negro onde eu ministrava as aulas ,todas as segundas,quartas e sextas a partir das 18h. Meu semblante demonstrava tristeza por não ter condições financeiras de viajar para o Rio de Janeiro onde seria realizado o berimbau-de-ouro. Do mesmo diretor cujo incentivo recebi para dar aulas naquele educandário, iria receber também o apoio financeiro para me deslocar até o Rio de Janeiro. Ele me percebendo chateado,perguntou-me quanto precisaria para viajar. Eu ,o mestre Tabosa e o Rubinho fomos no fusquinha 1200 deste último. Precisávamos rachar as despesas e caberia a cada um de nós a quantia de quarenta cruzeiros. O professor Cezar Gonçalves me deu cem cruzeiros e fiquei-lhe eternamente grato. Como esse mundo dá voltas!!!!! Um dia eu estava de plantão no hospital de Base,nove anos após o berimbau de ouro,quando me chamaram para dissecar uma veia no PS da cardiologia. Para a minha surprêsa eu fui atender justamente a sogra do professor Cezar. Ele estava presente com a sua linda esposa e pude então, com grande prazer, tentar retribuir com o meu ato-médico a grande alegria que ele havia me proporcionado anos atrás.
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