quarta-feira, 16 de março de 2011

Mais HISTÓRIAS

      Conhecí o Mestre Rafael(O líder na época do grupo Senzala) em Brasília  no início de 1969 através do mestre Tabosa. Nos encontramos no Centro de Ensino Médio Elefante Branco- CEMEB onde eu dava aulas. Neste dia realizei uma roda,onde jogamos pela primeira vez. Ele é um indivíduo branco,cabelos louros, nariz helênico e totalmente diferente do estereótipo mestiço dos capoeiristas que eu costumava ver.  Outra característica interessante no seu comportamento,era o seu modo de gingar. Ele não passava o pé que se encontrava na primeira base,diretamente para trás,mas tocava-o antes com sua parte interna ,a parte também interna do joelho da perna de apoio.  Quando o pé que se encontrava atrás na segunda base retornava para frente de modo a refazer a primeira base,tinha que tocar antes o mesmo joelho da perna de apoio,antes de se deslocar para o lado. Dava a impressão que ele estava se deslocando sorrateiramente para diante, sempre ameaçando soltar uma bênção ou uma ponteira baixa(Martelo-de-frente).
     Neste encontro,ele convidou-me a participar do último berimbau-de-ouro no segundo semestre do mesmo ano.
      Uns anos atrás eu vi uma reportagem na televisão,sobre um fazendeiro no norte do Espírito Santo que promoveu uma verdadeira revolução,na sua fazenda e em parte no município. Quase  todos próximos a ele aderiram à capoeira. Os mais antigos,sem condições físicas de praticá-la,compareciam às rodas e simplesmente batiam palmas e repetiam o coro. Pude observar,vaqueiros carregando seus berimbaus no dorso dos seus cavalos. Fabricantes de toneis de pinga passaram a confeccionar atabaques. E assim ele não se afastou das coisas que gosta.

     Eu estava,certo dia, sentado na escada sul que ligava o andar superior do colégio ao enorme salão negro onde eu ministrava as aulas ,todas as segundas,quartas e sextas a partir das 18h.  Meu semblante demonstrava tristeza por não ter condições financeiras de viajar para o Rio de Janeiro onde seria realizado o berimbau-de-ouro. Do mesmo diretor cujo incentivo recebi para dar aulas naquele educandário, iria receber também o apoio financeiro para me deslocar até o Rio de Janeiro.  Ele me percebendo chateado,perguntou-me quanto precisaria para viajar. Eu ,o mestre Tabosa e o Rubinho fomos no fusquinha 1200 deste último. Precisávamos rachar as despesas e caberia a cada um de nós a quantia de quarenta cruzeiros.  O professor Cezar Gonçalves me deu cem cruzeiros e fiquei-lhe eternamente grato. Como esse mundo dá voltas!!!!!  Um dia eu estava de plantão no hospital de Base,nove anos após o berimbau de ouro,quando me chamaram para dissecar uma veia no PS da cardiologia. Para a minha surprêsa eu fui atender justamente a sogra do professor Cezar. Ele estava presente com a sua linda esposa e pude então, com grande prazer, tentar retribuir com o meu ato-médico a grande alegria que ele havia me proporcionado anos atrás.

quarta-feira, 9 de março de 2011

MESTRE TABOSA ME CONVIDAVA A CORRER

          O mestre Tabosa sempre foi o maior incentivador da capoeira no Distrito Federal.   Grande atleta, favorecido por uma compleição física que o dotava com os requisitos mínimos para a prática bem sucedida de qualquer esporte.  Portanto, a capoeira foi facilmente assimilada por sua máquina biofísicomental.
         Tive o prazer de ser convidado inúmeras vêzes para treinar com ele, inclusive no eixo monumental. Saíamos correndo na altura da SQS 208 em direção à rodoviária.  Nós levávamos conosco um menino magrelo, morador de um bloco da SQS 410 em frente ao meu.  Foi um dos meus primeiros alunos.  Algum tempo depois, ele mudou-se para o Cruzeiro ( Só existia o "Cruzeiro velho "naquela época ) e nunca mais tive notícias dele.  Nem mesmo seu nome me lembro mais.  Quem sabe algum dia,tenhamos a sorte de reencontrá-lo e possamos enriquecer este blog com lembranças ,cujo tempo já tenha apagado da minha memória.    O mestre Tabosa notava,como parávamos frequentemente pelo fácil esgotamento físico do menino.  Não demorou muito,para apelidá-lo de PALMO-DE-LÍNGUA.
       Os treinos tinham como base,uma corrida em fila indiana.  Quem estava na dianteira,dava um sinal para que o último,disparasse e se colocasse adiante.  Num dado instante,parávamos e fazíamos as sequências do Mestre Bimba,nos revezando.   A partir destes treinos,começamos a discutir,formas de otimizar a prática dessas sequências.  ADAPTAMOS a forma de executá-las,através  do respeito rígido aos pontos onde os pés e mãos tocavam o solo,após a execução de cada golpe, com o objetivo de não desperdiçar tempo com deslocamentos aleatórios e desnecessários.  Muitos críticos  ANÔNIMOS a estas adaptações ,permanecem ESCONDIDOS SOB PSEUDÔNIMOS impedindo assim que possamos enriquecer o debate.  Eles criticam por exemplo,a forma como apresentei estas sequências no YOUTUBE.
 São críticas na maioria destrutivas,simplesmente pelo desconhecimento dos processos pelos quais tivemos que fazê-lo.   Sempre expliquei que fiz apenas ADAPTAÇÕES,sem contudo ALTERÁ-LAS.  Um dos motivos que tivemos para estes aprimoramentos,foi a realidade da época do início de Brasília.  Comparando  a IDIOLETÍCE, que é um termo que traduz a forma diferente de cada indivíduo falar a mesma língua,com as diversas formas de executar  as mais diversas atividades humanas,percebemos que as adaptações existem em todos os sistemas.como forma de otimização e consequente evolução.  O que não evolui, é FOLCLORE.  A prova disso obtive conversando com o mestre Camisa,o qual me contou que executa as sequências do mestre Bimba, de trinta modos diferentes.
 A nossa cidade,inicialmente é lógico, não possuia nenhuma tradição.  Todos eram estrangeiros. E nesse sentido,até a nossa capoeira foi submetida às mais diferentes formas de testes de eficiência. Mesmo vindo de outros capoeiristas de outros estados,principalmente baianos.
  Ao analisarmos criticamente as sequências,selecionamos os movimentos que pudessem ser melhorados em termos de COMBATE através da aplicação de princípios biofísicos.   Respeitamos e conservamos os fundamentos e a ética que se auto-gerem e caracterizam a capoeira como tal, mas sem contudo esquecer do seu perfil de LUTA...com grande poder destrutivo.
    E assim fomos gerando os nossos descendentes